terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Governo da Ucrânia deve assinar acordo com a Rússia: Diálogo com a União Europeia fica distante

LEANDRO COLON
DE LONDRES
A novela política da Ucrânia terá um capítulo hoje que deve agravar ainda mais a crise que afeta o país há três semanas. Em meio a protestos que pedem sua saída, o presidente ucraniano, Viktor Yanukovich, pretende assinar acordos comerciais com a Rússia.
O dirigente vai a Moscou se encontrar com o presidente russo, Vladimir Putin. A previsão, segundo a assessoria do próprio Yanukovich, é que assinem acordos bilaterais nas áreas de energia, aviação e transporte, entre outras.
Na prática, o gesto dele de ir a Moscou é uma tentativa de obter uma recompensa financeira dos russos, principalmente na área de gás, em troca de ter se negado a assinar um acordo comercial com a União Europeia (UE).
Autoridades russas confirmaram ontem as negociações para um empréstimo a Kiev e o ministro ucraniano da Energia, Eduard Stavitsky, sinalizou para a redução nos preços da energia russa.
É justamente essa relação entre Ucrânia e Rússia que tem levado milhares de manifestantes às ruas de Kiev.
A oposição acusa Yanukovich de recuar do acordo com a UE para ceder à pressão russa, que não quer vê-lo próximo ao bloco europeu.
Na visão dos adversários de Yanukovich, a aproximação econômica com esses países, e não com Moscou, é a saída para a crise econômica que assola o país. Na sexta, oposição e governo chegaram a se encontrar, mas, ao que tudo indica, nada avançou.
Fiel a Putin até agora, o dirigente ucraniano deve cobrar hoje a fatura. A redução do preço da energia já seria um alento ao governo de Kiev, afinal a dívida com os russos hoje é de cerca de US$ 60 bilhões (R$ 140 bilhões).
Yanukovich tem adotado um discurso ambíguo com a União Europeia. Ele alega que não fechou as portas para o bloco, mas que as condições financeiras precisam melhorar --o país, na verdade, espera uma ajuda de € 20 bilhões por ano (R$ 64 bilhões).
Essa postura tem irritado os dirigentes europeus. No domingo, o comissário para a ampliação do bloco, Stefan Fuele, disse que as negociações haviam sido suspensas porque a Ucrânia não deixa claro seu compromisso.
Ontem, a chefe da diplomacia da UE, Catherine Ashton, tentou demonstrar um clima de conciliação. Em Bruxelas, ela disse acreditar no diálogo com Kiev, mas desde que o dirigente ucraniano deixe claro o que ele quer mudar no acordo.
Fonte: Folha, 17.12.13.

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Presidente ucraniano cede e aceita negociar: Aceno à oposição ocorre no mesmo dia em que forças de segurança se posicionam para dispersar manifestantes

Críticos do governo reforçam barricadas para evitar ação da polícia em prédios públicos ocupados
DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS
O presidente da Ucrânia, Viktor Yanukovich, aceitou ontem participar de uma mesa-redonda com a oposição para tentar pôr fim aos protestos que paralisam parte da capital, Kiev, há duas semanas.
A reunião foi sugerida pelo primeiro presidente da Ucrânia independente, Leonid Kravchuk, e deve ser realizada hoje, com a presença de todos os chefes de Estado que o país já teve desde que se separou da União Soviética, em 1991.
A abertura ao diálogo, porém, não foi suficiente para diminuir a tensão no país, já que ocorreu no mesmo dia em que as forças policiais ucranianas se posicionaram para dispersar centenas de manifestantes que ocupam ruas e prédios públicos da cidade.
Dezenas de agentes da tropa de choque do Ministério da Defesa foram deslocados para o centro da Kiev, a um dia do fim do prazo dado pelo governo para que os manifestantes deixem o local.
Diante do temor de uma ação violenta da polícia, algumas pessoas deixaram a Prefeitura da cidade, o principal prédio ocupado.
Os que ficaram montaram barricadas e se armaram com pedaços de pau, rolamentos e óleo de girassol para fazer os agentes escorregarem se tentarem entrar no prédio.
"Não vamos deixar ninguém entrar no prédio, mas esperamos que não aconteça um banho de sangue", disse um dos organizadores da ocupação, Vasyl Khlopotaruk.
A crise política na Ucrânia começou com a recusa do presidente Yakunovich de assinar um acordo com a União Europeia, em novembro.
Isso irritou a parcela da população que é favorável a uma maior aproximação com o bloco e que acusa o governo de privilegiar a relação com a Rússia.
Na noite de anteontem, um protesto reuniu mais de 500 mil pessoas no centro de Kiev, onde ficam prédios públicos importantes, como o da Presidência e o do Parlamento.
Pouco depois do amanhecer de ontem, cerca de 300 pessoas permaneciam na praça da Independência, centro dos protestos, apesar da neve.
"Fazemos um chamado para que as pessoas fiquem onde estão e, de forma pacífica, sem agressão, defendam o seu direito de viver num país livre", afirmou um dos líderes da oposição, o campeão mundial de boxe Vitaly Klitschko.
O presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso, que conversou com Yanukovich por telefone no domingo, pediu que as autoridades não façam uso da violência.
"Aqueles jovens nas ruas da Ucrânia, sob temperaturas congelantes, estão escrevendo uma nova narrativa para a Europa", disse ele.
Protestos ocorrem por antagonismo leste-oeste, não pela crise econômica
ELENA LAZAROUDANIEL EDLERESPECIAL PARA A FOLHA
Os recentes protestos na Ucrânia foram impulsionados pela reação pública à decisão do governo em não assinar o Acordo de Associação (AA) com a União Europeia (UE). A expectativa era que este se concretizasse na cúpula da Parceria Oriental em Vilnius, capital da Lituânia, semana passada.
Enquanto negociações para AAs --documentos que estabelecem o formato e as regras para integração e liberalização comercial-- avançaram com Geórgia e Moldova, a Ucrânia adiou, por enquanto, uma aproximação à UE.
Observadores traçam paralelos equivocados destes protestos com outras manifestações que ocorreram mundo afora.
Tais análises apontam para o descontentamento com as instituições políticas e as elites que governam o país há mais de 20 anos. É certo que há alto grau de insatisfação com a fragilidade da democracia e dos canais de representação, mas é o conteúdo da política que está no centro do debate, não o regime.
Gritando "Ucrânia, vá para a Europa! Yanukovich, vá para o inferno!" os manifestantes de Kiev estão escrevendo um novo capítulo de uma disputa que tem marcado o país desde a independência, em 1991. Tal disputa gera uma postura pendular, que ora aproxima a Ucrânia da UE, ora a reinsere na esfera de influência russa.
Desde 1991, as mudanças no governo representam a divisão existente na sociedade e no território. A parte ocidental do país tem vínculos históricos com a Europa, o que se reflete na cultura local e nas opiniões políticas.
Laços fortes com a Rússia são vistos como atentados à autonomia e remontam ao autoritarismo de Moscou no período soviético. O processo de independência e a Revolução Laranja, que levaram, respectivamente, à ascensão dos pró-europeus Kravchuk e Yushchenko, tiveram grande apoio no oeste. Já a parte oriental, onde há uma concentração da diáspora russa, ressente-se das ações tomadas por governos europeístas e apoiou o presidente Yanukovich.
Nesse sentido, não é surpreendente que após a vitória de Yanukovich, em 2010, o legado da Revolução Laranja tenha sido revertido e alguns de seus líderes presos.
As decisões do governo sobre o acordo com a UE e os protestos nas cidades ocidentais devem ser vistos, portanto, à luz do profundo antagonismo da sociedade, e não somente como resultado da corrupção e da crise econômica.

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Comunismo russo de cara nova?

26/11/2013 Elena Bázina, especial para Gazeta Russa

Mais de vinte anos após o colapso da URSS, comunistas ainda nutrem esperança de retornar ao poder.
Comunismo russo de cara nova?
A opinião de que todos os partidos comunistas modernos traíram os verdadeiros valores comunistas também é muito comum na sociedade russa Foto: Reuters
Os comunistas que governaram a Rússia por mais de 70 anos ainda representam a segunda força política mais poderosa do país. Eles prometem um tipo de socialismo ao estilo chinês, ainda que sua popularidade e influência estejam em constante declínio. Paralelamente, novos partidos comunistas pregam o “verdadeiro comunismo” e denunciam as corrupções da velha guarda.
O Partido Comunista da Federação Russa (PCFR) é a segunda força política mais poderosa da Rússia moderna e é amplamente conhecido como o sucessor do Partido Comunista da União Soviética (PCUS). Nas últimas eleições para a Duma de Estado, o PCFR conquistou oficialmente 11,57% dos votos, embora as eleições tenham dado vitória ao Rússia Unida, com 64,30% dos votos.

“Todos esses pseudocomunistas foram inventados pelo poder oficial, porque o Kremlin tem medo de nós. Eles querem seduzir os nossos eleitores para votar nesses partidos falsos. Isso tem como objetivo controlar as pessoas e reduzir a nossa influência”,

Secretário para relações internacionais do Comitê Central do PCFR, Leonid Kaláchnikov

O candidato a presidente pela sigla, Guennádi Ziuganov, levou o segundo lugar, depois de Vladímir Pútin, com mais de doze milhões de votos (quase 17% de todos os votos contabilizados) em 2012. O partido possui pouco mais 156 mil membros espalhados em 81 divisões regionais.
Hoje em dia, o ex-partido governista encontra-se entre os grupos de oposição. O objetivo declarado do PCFR é reestabelecer o socialismo na Rússia. Entre as metas prioritárias estão a nacionalização dos recursos naturais, agricultura e indústrias de grande porte, dentro da estrutura de uma economia mista que permita o crescimento de pequenas e médias empresas do setor privado.
No entanto, nem todas as pessoas que compartilham as ideais comunistas concordam com a política do partido. O ano de 2012 foi marcado pela criação de dois partidos comunistas alternativos: o Comunistas da Rússia e o Partido Comunista da Justiça Social. O primeiro surgiu em 2009, mas depois foi registrado como uma organização pública.
A principal diferença entre o PCFR e os outros dois partidos é a atitude em relação à religião, já que o PCFR ​​mostra uma aproximação significativa com a Igreja Ortodoxa Russa. O seu líder, Guennádi Ziuganov, declarou recentemente que um a cada três membros do partido é religioso, mas na União Soviética era proibida qualquer tipo de religião. Enquanto isso, os dois partidos comunistas novos insistem que os verdadeiros comunistas devem ser ateus, assim como na época da URSS.
“Devemos que admitir que uma parcela da nossa sociedade sente-se nostálgica em relação ao nosso passado soviético. A maioria dessas pessoas associam o PCFR ​​com o partido comunista anterior. O objetivo principal dos outros partidos emergentes é provar ao eleitorado que eles também são a mesma coisa e sujar a reputação do PCFR”, diz o cientista político Konstantin Truevcev.
A opinião de que todos os partidos comunistas modernos traíram os verdadeiros valores comunistas também é muito comum na sociedade russa. Especialistas dizem que as pessoas sentem-se frustradas com o fato de que o partido determinou as políticas de Estado por 70 anos e acabou fracassando.
Contra ou pró-Kremlin?
Embora os programas políticos de todos os partidos comunistas sejam semelhantes, eles negam um ao outro. As siglas novas, por exemplo, acusam Ziuganov de colaborar com o Kremlin. Além disso, afirmam que o programa do PCFR ​​está desatualizado e, por isso, jamais será capaz de chegar ao poder. A maioria desses partidos alternativos são formados por ex-membros do PCFR ​​que exigiam a renúncia de Ziuganov.
O líder do Partido Comunista da Justiça Social, Iúri Morozov, era membro do partido governista Rússia Unida, fato que dá a seus adversários um motivo para acusá-lo de ligações com Pútin.
“Todos esses pseudocomunistas foram inventados pelo poder oficial, porque o Kremlin tem medo de nós. Eles querem seduzir os nossos eleitores para votar nesses partidos falsos. Isso tem como objetivo controlar as pessoas e reduzir a nossa influência”, garante o secretário para relações internacionais do Comitê Central do PCFR, Leonid Kaláchnikov.
O Comunistas da Rússia se apresenta como um partido dos jovens, mas enfrenta forte concorrência do PCFR, que tem uma organização subsidiária chamada União Liga da Juventude Comunista da Federação Russa. Existem também outras organizações de jovens comunistas, como a Liga da Juventude Comunista, a Liga da Juventude Comunista Leninista, Liga da Juventude Comunista Revolucionária e a Vanguarda da Juventude Vermelha, cujo líder Serguêi Udaltsov é uma das figuras mais conhecidas da oposição russa. Todas essas organizações são influenciadas pelo PCFR.
Ficção socialista
Apesar das contradições, os partidos demonstram cooperação em nível regional. Provavelmente a mais conhecida organização comunista russa, os Comunistas de São Petersburgo e Região de Leningrado incluem membros de todos os partidos comunistas e até mesmo alguns cidadãos apartidários.
Essa organização é famosa por seu boicote a uma exposição de pinturas de Sylvester Stallone em São Petersburgo, em outubro deste ano, chamando-o de “concretização da máquina militar dos EUA”. Alguns anos antes, eles exigiram prender o diretor de “Avatar”, James Cameron, porque ele teria “saqueado ficção científica saqueada da União Soviética”.
Especialistas são céticos em suas avaliações sobre as chances do partido comunista chegar ao poder. “Em comparação com os partidos políticos comunistas nos países da Europa Central, os partidos russos não tentam se adaptar às necessidades prementes da sociedade moderna. Mesmo para o PCFR, ​​que mostrou bons resultados nas últimas eleições, parece difícil acreditar que poderia governar a Rússia. Além disso, os partidos comunistas na Rússia se tornam cada vez mais um atributo do passado”, diz Truevcev. 
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Uma viagem pelo mercado de escravos da Rússia moderna

3/12/2013 Ogoniók

Como funciona o negócio que explora quase um milhão de pessoas no país.
Uma viagem pelo mercado de escravos da Rússia moderna
Mélnikov (esq.) finge ser morador de rua para atrair atenção dos prospectores de escravos Foto: Kommersant
Com roupas velhas e aparência desajeitada, Oleg Melnikov, líder do movimento juvenil Alternativa, finge ser um sem-teto, típico alvo de exploradores contemporâneos. Oleg permanece na estação de trem à espera de um possível recrutador que irá oferecer a ele uma cerveja com drogas fortíssimas e, desse modo, colocá-lo em ônibus ilegal rumo ao Daguestão, no sul da Rússia.
Cerca de uma hora depois,  um homem do Cáucaso senta-se ao seu lado e começa a puxar conversa. Depois tudo acontece muito rápido. Os outros membros do Alternativa conseguem alertar o posto mais próximo da polícia rodoviária, onde o ônibus é parado, e Oleg é finalmente resgatado.
O movimento criado por ele em 2010 tem poucos integrantes, mas contribui com a polícia. Os três indivíduos de Moscou e um grupo pequeno no Daguestão já conseguiram libertar mais de 120 escravos.
“Existem várias fábricas no Daguestão”, diz a coordenadora do movimento ortodoxo Crianças de Rua, Anna Fedotova. “Algum tempo depois, esses escravos acabam sendo libertados. Mas algumas fábricas são verdadeiros campos de concentração, com pessoas acorrentadas e forçadas a trabalhar até a morte.”
O relato é confirmado por Iliá, advogado que prestava assistência jurídica gratuita aos sem-teto e que certa vez foi parar nas mãos dos exploradores. “Na estação de trem convidaram Iliá para beber alguma coisa”, conta um colega chamado Nikita Danov.
“Disseram que ele, como advogado, conseguiria fácil um trabalho no Daguestão. Mas na bebida de Iliá colocaram algo sem ele ver e quando voltou a si já estava no ônibus, bem longe de Moscou”, diz Danov. O advogado foi enviado para uma pedreira e informou sobre sua localização, de onde foi retirado.
Escravo por necessidade
É assim que geralmente acontece a libertação dos escravos no Daguestão: a pedido dos parente, determinada pessoa desaparecido é procurada. Depois de localizada, ela é tirada sozinha do local. Mas nem todo mundo quer ser salvo. No Daguestão trabalham desertores de ambas as guerras da Tchetchênia apenas por abrigo e comida, ou então ex-presidiários recentes que não têm para onde ir.
“Os verdadeiros sem-teto, que escolhem conscientemente essa vida, não vão para as fábricas, pois não querem trabalhar”, explica o vice-presidente do movimento Crianças de Rua, Oleg Olkhov. “Nessa armadilha caem apenas aqueles que vêm para cá à procura de trabalho e a quem ninguém avisou do perigo.”
Quinze horas sem parar
Uma semana depois de Oleg Mélnikov receber alta do hospital, um trem vindo de Makhatchkalá traz mais um resgatado. Desta vez, os membros do movimento Alternativa salvaram Alleg Fethulov. Ele chegou a Moscou para procurar trabalho e na estação de trem foi abordado por dois homens do Cáucaso que lhe ofereceram uma bebida.
Alleg acordou, junto com todos os outros homens raptados, em um ônibus já no Daguestão. Ele foi parar em uma fábrica onde não batiam nos escravos, davam bom alimento e cigarros. Eram colocados para dormir em grupos de cinco dentro de vagões e trabalhavam 15 horas por dia, sete dias por semana, sem descanso.
Problema nacional
Os casos de uso de trabalho escravo são conhecidos não apenas nas repúblicas do Cáucaso do Norte, mas também na Basquíria, Nijni Novgorod, Voronej e na região de Moscou.
Um ano atrás, o movimento Alternativa também libertou escravas de uma mercearia na zona leste da capital. As mulheres eram mantidas anos no porão, espancadas, estupradas, mal alimentadas e podiam dormir pouco. Dois dias depois que o processo criminal foi instaurado, a loja fechou as portas.
Pelas estimativas, na Rússia são exploradas até um milhão de pessoas. Os artigos “Tráfico de seres humanos” e “Uso de trabalho escravo” apareceram na legislação russa só em 2004 e, desde então, não houve quase nenhuma condenação associada à exploração de migrantes ou à escravidão no Cáucaso do Norte.

Publicado originalmente pela revista Ogoniók 

Boxeador ucraniano se destaca na linha de frente contra governo: Campeão mundial dos pesos-pesados, Vitali Klitschko, o 'Punho de Ferro', defende aproximação com Ocidente

Lutador, que pede a renúncia do presidente, criou sigla que já tem 40 das 450 cadeiras do Parlamento
LEANDRO COLONDE LONDRES
Um dos maiores pugilistas do mundo quer derrubar, agora no ringue da política, o presidente da Ucrânia, Viktor Yanukovich.
Desde que se posicionou como candidato a presidente nas eleições de 2015, o lutador de boxe Vitali Klitschko, 42, virou um opositor declarado do atual governo.
Campeão mundial dos pesos-pesados pelo Conselho Mundial de Boxe, ele esbanja 47 lutas na carreira, com 45 vitórias (41 nocautes) e apenas duas derrotas.
Os fãs o chamam de "Dr. Ironfist", o doutor "Punho de Ferro". Seu irmão Wladimir, 37, o "Martelo de Aço", também é campeão mundial da mesma categoria, mas por outras entidades, como a Associação Mundial de Boxe.
SOCO
Vitali Klitschko entrou para a política em 2005, quando se lançou candidato a prefeito de Kiev. Perdeu, mas conseguiu se consolidar como uma liderança de destaque, principalmente pelo sucesso nos ringues do boxe.
Criou o partido com a sigla "Udar", "soco" em português. A legenda conseguiu 40 das 450 cadeiras do parlamento ucraniano nas últimas eleições legislativas.
O pugilista tem sido um dos principais protagonistas das manifestações que tomaram conta de Kiev desde o final de semana, depois que o presidente Yanukovich não quis assinar um acordo previsto com a União Europeia.
A oposição acusa Yanukovich de ceder às pressões do governo da Rússia, contrário à aliança ucraniana com o bloco europeu. Klitschko, que tem um discurso pró-países do Ocidente, tem pedido a renúncia do presidente.
"Eu sozinho não posso fazer nada. Três de nós juntos não fazem diferença. Mas quando somos 10, 20, 30, uma centena, um milhão, o governo não poderá fazer nada", disse aos manifestantes.
Fonte: Folha, 04.12.13.
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Ucrânia na encruzilhada


Seria simplista afirmar que apenas critérios de sobrevivência eleitoral nortearam a decisão do presidente da Ucrânia, Viktor Yanukovich, de romper tratativas de associação com a União Europeia --o que desencadeou a maior onda de protestos do país nos últimos anos.
Esse fator decerto está presente, embora à primeira vista transpareça certo paradoxo: centenas de milhares de ucranianos pedem a renúncia imediata do presidente e a assinatura de um tratado de livre-comércio com o bloco europeu.
Segundo essa narrativa, Yanukovich teria calculado que a maior proximidade com a União Europeia não lhe traria os votos necessários para a reeleição em 2015; por isso, preferiu a aproximação com Vladimir Putin, chefe de governo da Rússia, de conhecida veia autoritária.
Aspectos econômicos e históricos, no entanto, também precisam ser considerados nessa equação.
Kiev, hoje a principal cidade ucraniana, foi a capital de um grande Estado eslavo oriental entre os séculos 9 e 12 --origem dos atuais países Belarus, Rússia e Ucrânia.
De 1922 a 1991, os ucranianos integraram a URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas). Mantêm, ainda hoje, inevitável ligação com a Rússia: 17% dos habitantes são de origem russa e quase 25% têm o russo como primeiro idioma --caso do próprio Yanukovich.
Após a independência, ratificada por 90% da população, a Ucrânia ficou refém da importação de gás natural e petróleo da Rússia, que lhe cobra altos preços.
Endividada e em recessão, a Ucrânia ainda tem de lidar com valores em queda no mercado mundial de aço, um de seus principais itens de exportação, e com a possibilidade de retaliação da Rússia.
Moscou ameaça aumentar o preço do gás e fechar seu mercado aos ucranianos, que exportam US$ 16 bilhões ao país --segundo maior parceiro da Ucrânia, atrás da União Europeia (US$ 17 bilhões).
Vladimir Putin, em outra chave, também promete cooperação militar, aumento de importação de grãos, auxílio financeiro e compra de títulos da Ucrânia em troca da adesão a uma comunidade econômica de ex-repúblicas soviéticas.
Situação diversa, pois, da Revolução Laranja (2004-2005), quando multidões exigiram novas eleições após denúncias de fraudes cometidas pelo mesmo Viktor Yanukovich, então premiê e candidato à Presidência. Os dilemas de agora são bem mais difíceis e não se esgotam na esfera eleitoral.
Fonte: Folha, 04.12.13.
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